top of page

O vazio cósmico da criação

  • Foto do escritor: Paula Lins
    Paula Lins
  • 20 de fev.
  • 8 min de leitura


É interessante como às vezes estamos passando por processos internos tão intensos, nos sentindo completamente no escuro e sozinhos e, de repente, quando menos esperamos, quando estamos pensando que a única direção que iremos é para baixo e a luz no fim do túnel parece cada vez mais distante, somos abençoados com uma inspiração que promove uma virada de chave, uma mudança de perspectiva que, a princípio parece mínima, mas muda todo o nosso ser de formas que nem conseguimos compreender completamente no momento em que acontece. Quando nos sentimos no escuro, parece que nunca vai acabar, mesmo que já tenhamos estado neste mesmo lugar antes e sabermos que uma hora sairemos, estarmos imersos nos nossos medos pode parecer infinitamente insuportável enquanto dura. São as noites escuras que fazem parte da vida e que precisamos atravessar.


Essas, eu observo, são as transformações mais profundas, quando no nosso mais íntimo sabemos que algo grande morreu em nós, que não somos mais o que éramos, mas ainda não temos consciência dos porquês, dos comos e aonde chegaremos com isso. Só sentimos que algo que era, não é mais. Tem casos em que esse sentimento é bem visível (ou “sentível”) e percebemos algo mudando. Em outros casos, quando nos encontramos mais inconscientes sobre nossos processos internos, não percebemos. Porém, em ambos os casos, a impressão de estar no “nada” e o sentimento de vazio que isso causa, leva-nos a experienciar dores de perda, de incapacidade, de melancolia e um medo que nos deixa realmente desconfortáveis. Daríamos qualquer coisa para que algo ou alguém venha e nos arranque o mais rápido possível dessa situação. São esses os grandes momentos em que podemos dar importantes passos em direção às mudanças que realmente desejamos, ainda que não pareça nada disso na superfície - é preciso olhar mais fundo. Esses momentos contêm um potencial tão forte de guinada na vida e, se soubermos como aproveitar esse potencial, podemos nos superar de formas que não acreditávamos ser possíveis para nós. É o salto de fé!


Esse é o momento em que estamos entre o que foi e o que será. Não somos mais aquela outra pessoa e nossa vida não é mais a mesma. Mas ainda não conseguimos ver quem estamos nos tornando e para onde a vida seguirá. É muito desafiador estar neste lugar, porque a mente PRECISA saber. Ela funciona através de imagens e padrões e quer criar uma imagem padronizada do que virá a seguir baseada nos padrões que conhece. E ela quer que seja da maneira que ela conhece, porque atua de forma separada, sem ter consciência das outras partes envolvidas (e, portanto, desconhecidas). É aí que precisamos ter muito cuidado para não ficarmos empacados, nos apegando ao que já foi, ao que é conhecido pela mente. E, por outro lado, não ceder ao impulso de já criar uma imagem pronta do que pensamos que será. Você vê, a mente ela só recria o passado, porque ela reconhece padrões. Por esse motivo, ficamos confortáveis com o que é mais racional e palpável e muito desconfortáveis com o que é abstrato e sem forma. Então, em vez de confiarmos no fluxo da vida, entregarmos um pouco o controle da mente e deixarmos que a manifestação do que será se desenrole diante de nós, já criamos toda uma imagem do futuro, limitada dentro de um formato que a mente pensa ser o único possível. E o resultado acaba sendo uma ilusão, no sentido de que será uma criação distorcida. Nossos corpos físico, emocional, mental e espiritual precisam estar alinhados para que a energia originada nos planos superiores passe por eles e se manifeste no plano físico de forma íntegra. Se existem conflitos entre esses corpos, ou seja, se eles não estão unificados e sentimos forças nos puxando e repuxando em diferentes direções, essa energia chegará ao plano físico distorcida. É como uma sinfonia que precisa estar em harmonia para que a música esteja afinada. Se algum instrumento está em desarmonia com os outros, a música sairá desafinada. Então, essa distorção da energia criará uma mentira que não se sustentará por muito tempo. Talvez por algum tempo, mas não iremos muito longe antes de encontrarmos outra crise em nossas vidas. Sabemos que estamos criando de forma mais alinhada e verdadeira quando as desarmonias vão se tornando menos frequentes. Não é que tudo fica perfeito, os desafios fazem parte da vida e continuam existindo, mas desenvolvemos uma forma mais madura e equilibrada de lidar com eles quando nosso ser está em harmonia.


Não compreendemos que a consciência existe em muitos níveis e que nossos pensamentos são apenas uma pequena parte do todo. E então, funcionando dentro do modus operandi da mente, ansiosos por sair desse lugar de escuridão e temendo ardentemente o desconhecido, começamos a moldar o nosso futuro nos baseando em experiências que já aconteceram e que nos transmitem segurança porque são conhecidas, sem considerar que existem muitas formas de ver um mesmo ponto. Ou seja, nos apegamos às nossas zonas de conforto, mesmo que elas possam ser bastante desconfortáveis até. Continuamos repetindo nossas velhas histórias. Você já teve essa sensação de que as pessoas mudam, mas o cenário da situação continua o mesmo? Você está repetindo um padrão e, mesmo que mude de relacionamentos, de cidade, de país, de trabalho, etc, esse padrão continua a se repetir como em um looping eterno, te colocando a viver as mesmas dificuldades, desequilíbrios e dores. Esse processo agora, no momento planetário que estamos vivendo, está mais evidente do que nunca e continuará a ficar cada vez mais difícil sermos bem sucedidos ao evitar aceitá-lo. O momento pede por revelação de tudo o que ocultamos até de nós mesmos. Nós criamos vidas inteiras de mentiras por causa do medo de enfrentar o desconhecido e depois vivemos desconfortáveis porque nos sentimos vazios, desconectados e distantes de nós mesmos. De qualquer forma não conseguimos evitar o vazio, ele acaba nos alcançando de algum jeito, porque não é possível enganar a vida, assim como não é possível enganar a morte.


É aí que empacamos e não sabemos como sair. O que precisamos fazer é ir além da mente. Porém, isso não significa negá-la, significa reconhecê-la pelo que ela é e pelo serviço que ela presta, que tem sim a sua importância. Ainda assim, nossos pensamentos não definem tudo o que somos. Somos muitos maiores, mesmo quando não temos consciência do quanto. Agora você pode estar pensando “tá bom, mas como ir além da mente?”. Talvez essa seja nossa maior busca atualmente. Bem, não se desanime, não tenho uma fórmula pronta para te dar, mas posso te oferecer a minha perspectiva e te ajudar a ver por um outro ângulo.


Não se trata de controlar a mente. Nossa noção de controle nos faz artificializar nossos processos naturais, porque acreditamos que precisamos manipular o fluxo da vida. E acreditamos nisso justamente porque estamos fragmentados por dentro, presos nessa identificação com a mente, ignorando nossas outras partes. Estamos sempre conectados a uma inteligência cósmica que tem uma visão muito maior do que a que estamos conscientes agora. Essa inteligência, que podemos sentir de forma mais evidente nos níveis superiores do nosso ser, correlaciona tudo o que acontece no universo de forma ritmada e bastante ordenada. Não nos preocupamos se a noite vai chegar e o dia vai raiar ou se teremos ar para nossa próxima inspiração, a cada momento e todos os dias nós confiamos na inteligência que organiza esses processos. Quando não reconhecemos que essa inteligência habita em nós a cada instante, que não estamos separados dela e que não somos só a nossa mente, emoções e corpo físico, sentimos a necessidade de controlar a vida. Essa necessidade de controle surge da nossa separação interna, da divisão que sentimos por dentro. O resultado é sentirmos que estamos sozinhos, porque nos vemos desconectados da Fonte da Vida. Nada mais longe da verdade! A Fonte da Vida está sempre em nós, é a nossa origem e seria impossível existirmos aqui se estivéssemos separados dela. Como podemos estar separados da nossa origem? E não escrevo isso me referindo à sua origem como no passado, me refiro aqui e agora. Você está existindo agora e sendo real, certo? Tem alguma força que está sustentando sua existência neste exato momento e ela não vem só da mente. Vem de uma Fonte de Vida Divina que organiza todas as forças necessárias para te dar origem! Então, não se trata de controlar, mas de confiar nisso e começar a investir nossa energia em encontrar unidade interior. Tornar inteiro o que está dividido em nós. Tomar consciência de todas as nossas partes e começar a integrá-las para que as forças possam trabalhar juntas. Aprender a falar a língua dos planos desconhecidos da nossa consciência. A mente se comunica de um jeito que é familiar para nós, mas existem outras formas de comunicação que precisamos desenvolver. Enquanto não fizermos isso, viveremos em conflito com nós mesmos e as diferentes vozes que nos puxam cada uma para um lado. Lembre-se: não negue as diferentes vozes que existem em você, aceite-as, purifique-as, integre-as e faça-as trabalharem juntas! A libertação não acontece através do controle, mas sim da aceitação. O controle vem da insegurança. A aceitação, da confiança e entrega. Precisamos praticar nossa confiança em uma inteligência maior, mais sábia e mais poderosa que não existe fora de nós, mas EM NÓS. Precisamos confiar em nós mesmos e no conhecimento que surge das nossas profundezas. Precisamos acreditar na Essência Divina que habita em nós.


Eu observo como funciona a criação através da natureza. Uma semente germina no escurinho embaixo da terra, no vazio, no silêncio, no nada. Ela não vive preocupada se amanhã vai ter água, se algum bichinho vai vir comê-la ou com o que acontecerá. Ela entrega o seu crescimento e evolução aos desígnios da natureza em total confiança. As plantas selvagens que recebem menos cuidados controlados e sobrevivem aos maiores estresses e desafios, são as mais fortes e que carregam novas informações em seu código genético, porque elas descobrem novas formas de superar os obstáculos que precisam transpor. Elas aprendem novas perspectivas! E essa informação é passada adiante através de uma grande teia onde toda a vida está interconectada, servindo ao todo. Assim, todas as formas de vida podem crescer juntas.


O potencial da criação habita bem no núcleo dos desafios que nos ensinam novas perspectivas! Está nos ciclos que ditam os ritmos da vida. O movimento se encontra na dualidade dos finais e recomeços. Tudo o que expande, uma hora contrai. E tudo o que sobe descerá. Para que algo nasça, algo tem que morrer. Nosso crescimento e evolução depende desse movimento, do contrário ficaríamos estagnados sem criar nada e a vida não poderia existir, porque ela própria é movimento. Ela é o fluxo que corre como as águas dos rios. Dependemos desse fluxo para existir, então por que o tememos tanto? Temos medo da nossa pequenez frente ao universo, porque não compreendemos a grandeza que existe na humildade de entregar o controle. Fazemos tudo o que podemos para matar a vida porque nos sentimos impotentes diante de todo o seu potencial. Temos medo do vazio porque, ao contrário do que parece, ele é muito vasto para ser compreendido com apenas uma parte do que somos. Para compreendê-lo precisamos, antes, compreender a nós mesmos.


O vazio não te limita, o vazio te expande! Então, por que temes tanto o vazio cósmico da criação? Não confias que algo maior está a te guiar? Não confias nesta força intuitiva que existe em ti? Bem aí nesse vazio, nessa escuridão, existe um enorme potencial para que todas as possibilidades do universo se manifestem na tua vida agora. Não queres saber o que é possível criares, para além de tudo o que te disseram, para além de tudo o que sabes até então? Não queres conhecer tuas verdadeiras capacidades? Então desapegue-se dos teus princípios e convicções. Desapegue-se do que acreditas que eres para que te tornes tudo o que é possível seres: incrivelmente ilimitado!


Com amor,

Paula

Comments


bottom of page