A verdadeira transcendência
- Paula Lins
- 12 de mar.
- 2 min de leitura

Meditar não é sobre um esforço que se faz para parar de pensar ou alterar um estado de consciência. Não se trata de alcançar um resultado. Ao contrário, é desapegar do resultado. Meditar se trata de abraçar o momento com tudo o que ele traz, sem ir contra ele. E, se você continuar se sentando para meditar já esperando estar em outro lugar senão aqui e agora, você com certeza se frustrará e começará a se autossabotar na sua prática.
Tem dias em que eu acordo me sentindo muito centrada e serena, então minha personalidade não resiste em sentar para fazer a meditação, porque é confortável estar nesse estado. Mas, tem dias em que eu acordo com a mente agitada, confusa e sentimentos que eu não gosto de sentir. São nesses dias que sinto os maiores impulsos para pular a meditação. E por que isso acontece? Porque nós temos esse condicionamento de negar nossa parte que menos gostamos (ou que não gostamos nem um pouco). Como a meditação faz com que nós paremos e nos olhemos sem poder fazer muita coisa ou fugir daquilo, se torna algo realmente desconfortável se sentar e ter que ver aquilo que tentamos tanto esconder dos outros e de nós mesmos.
Temos essa crença de que meditar é sobre parar os pensamentos e estar em um estado de transcendência absoluta como um iogue perfeito. Então, nos dias em que a mente está igual a um furacão, procrastinamos porque sabemos que não vai parecer nada transcendental fazer aquilo. Na verdade, o que irá acontecer é que ficaremos ali um tempo lutando com uma parte nossa e será muito exaustivo e desconfortável fazer isso - ás vezes insuportavelmente desconfortável. Meditar não é sobre se esforçar, lutar contra algo que está se manifestando em você no momento, se forçar ser qualquer outra coisa que você não está sendo agora. É sobre sentar e se observar sem se identificar com o objeto da observação.
Então você acordou hoje e está de mau humor, daqueles que nem você está aguentando a sua própria presença. Ótimo! É o momento perfeito para treinar se sentar, focar na sua respiração e simplesmente experienciar esse mau humor sem tentar fugir dele. Se permita sentir o desconforto como ele é. Conheça o seu desconforto. E conhecê-lo não significa se apegar a ele. Significa apenas deixar ele ser enquanto você foca na sua respiração. Sente como é gostoso o ar entrando e saindo dos seus pulmões. A sensação de expansão quando o peito enche e o alívio quando o ar sai levando o que não serve mais.
Com o tempo vamos aprendendo a aceitar o momento presente como ele é, mesmo que seja desafiador. Aprendemos a redirecionar o nosso foco aceitando que o desafio é uma realidade ali, mas ao mesmo tempo encontrando conforto no desconforto. Quando compreendemos isso, vai ficando mais fácil superar a procrastinação nas práticas de meditação (e na vida!). Mas sem lutar contra ela. Acolha também sua procrastinação!
Porque só quando nós podemos aceitar essas partes, é só quando nós desistimos de lutar contra nós mesmos e relaxamos na aceitação do que quer que esteja se mostrando, é que naturalmente passaremos através do que precisa ser transformado. E essa é a verdadeira transcendência.
Com amor,
Paula
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